É então em Agosto de 1709 que o Padre Bartolomeu de Gusmão faz perante a corte portuguesa algumas experiências com balões de pequenas dimensões construidos por ele. Seriam os protótipos de aparelhos maiores onde se poderia viajar. Era grande a espectativa da corte; o rei D.João V, a rainha D. Maria Ana, toda a nobreza mais residente, o benfeitor e amigo do Padre, o Marquês de Fontes; estavam presentes ainda o cardeal italiano Miquelângelo Conti, que dali a uns anos seria o papa Inocencio XIII; ainda os membros da Academia Real de História Portuguesa, escritores José Soares da Silva e Francisco Leitão Ferreira.
Subiu graciosamente o balão até ao tecto deslocando-se lateralmente até um dos cantos da sala, pairando sobre os grossos reposteiros. Tinha o inventor tudo programado para que a descida se desse dali a alguns minutos, pois diminuiria a reserva de alcool e sem a alimentação de ar quente o balão baixaria suavemente. Não pensou assim o intendente do palácio, e com medo de um incêndio mandou dois serviçais com uns varapaus derrubar o novel aeróstato. Todos gostaram das explicações do Padre Bartolomeu, que logo ali anunciou que dali a algumas semanas no Terreiro do Paço, junto à Casa das índias, faria nova demonstração com um aparelho de um porte maior que subiria a alturas impensadas e que desceria por ele.
Foi então, em Outubro de 1709 junto à Casa da Índia, que é feita nova demonstração com um aparelho de um porte maior e testemunhado pelas figuras da corte que já tinham assistido à primeira experiência, e outras, a quem a curiosidade tinha motivado. Também muitos embaixadores de cortes estrangeiras.
Na presença de todas estas testemunhas o aeróstato levantou e pairou na enorme área do Terreiro do Paço, ervoluindo graciosamente ao sabor de uma brisa temperada, preso por um singelo cordame para que não desaparecesse no horizonte. Consumiu o cálculo de alcool que tinha sido destinado e começou a descer suavemente até ao solo.
Foi um sucesso, mas também o começo de uma etapa de fortes invejas por parte de inventores menores e pela Inquisição, que não via com bons olhos a audácia de desbravar os caminhos do céu. O nosso inventor não pôde ir mais longe, e nunca se sabe ou ficou registado, a odisseia que se diz ter feito, de ir a bordo de um destes balões desde o Castelo de S. Jorge até ao Terreiro do Paço. Desiludido parte em 1713 em viagem pela Europa. Regista na Holanda o invento de uma “ máquina para a drenagem de água alagadora de embarcações de alto mar “. Vive em Paris trabalhando como botânico e ervanário. O seu irmão Alexandre Gusmão secretário do embaixador de Portugal na França, socorre-o. Volta a Portugal e a campanha de insidiosa perseguição acentua-se, a Inquisição acusa-o de simpatizar com Cristãos-Novos e ser um forte simpatizante do judaismo.
Foge para Toledo, Espanha, adoece ali gravemente e é internado no Hospital da Misericórdia daquela cidade, vem a falecer em 18 de Novembro de 1724 com 39 anos, quando a sua maturação de cientista experimental mal tinha começado.
Muito deveram as experiências futuras do Balonismo e os irmãos Jaques e Josseph Montgolfier ao Padre Bartolomeu de Gusmão, graças aos estudos que este deixou ao seu irmão Alexandre, que por sua vez era amigo de um cientista português de nome José de Barros que estava ligado às pesquisas dos Montgolfier. Setenta e quatro anos depois,1783, na presença do rei Luís XVI e da Rainha Maria Antonieta. Joseph e Jaques apresentaram um balão com cerca de 32m de circunferência feito de linho e cheio de ar quente proveniente de uma fogueira de palha seca, levantou do chão cerca de 300m e voou cerca de 10 minutos, numa distância de 3 quilómetros. Nesse Setembro do mesmo ano efectuou-se novamente na presença da família real e da corte: novo vô, este tripulado por dois balonistas percorreu cerca de 25 quilómetros. Foi um tremendo exito. Estavam lançados os alicerces para a conquista dos ares. Os próprios Montgolfier nunca esconderam quanto se devia ao pioneirismo do Padre Bartolomeu de Gusmão. Entre a panóplia das gravuras da época sobre o tema, a que causou sempre mais viva impressão foi a da mítica “ Passarola Voadora” do “ Padre Voador”.
Hoje os Recordes do Guinness mantêm o registo do feito de Bartolomeu de Gusmão como realmente sendo o primeiro voo de um balão de ar quente.
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