1922 - Gago Coutinho e Sacadora Cabral realizam a primeira travessia aérea do Atlântico Sul
A primeira travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída com sucesso pelos aeronautas portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no contexto das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil.
Aclamados entusiasticamente como heróis em todas as cidades brasileiras por onde passaram, os aeronautas tinham concluído com êxito não apenas a primeira travessia do Atlântico Sul, mas pela primeira vez na História da Aviação, tinha-se viajado sobre o Oceano Atlântico apenas com o auxílio da navegação astronómica a partir do avião.
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A épica viagem iniciou-se em Lisboa, às 7:00h (hora GMT) de 30 de Março, empregando um hidroavião monomotor Fairey F III-D MkII, especialmente concebido para a viagem, equipado com motor Rolls-Royce e batizado Lusitânia. Sacadura Cabral exercia as funções de piloto e Gago Coutinho as de navegador. Este último tinha criado, e empregaria durante a viagem, um horizonte artificial adaptado a um sextante, a fim de medir a altura dos astros, invenção que revolucionou a navegação aérea à época.
A primeira etapa da viagem foi concluída, no mesmo dia, sem incidentes em Las Palmas, nas Ilhas Canárias, embora tenha sido notado, por ambos, um excessivo consumo de combustível.
No dia 5 de Abril, partiram rumo à Ilha de São Vicente, no Arquipélago de Cabo Verde, cobrindo 850 milhas. Estiveram na ilha até 17 de abril para reparos no hidroavião - que deixava entrar água nos flutuadores -, tendo partido das águas do porto da Praia, na Ilha de Santiago, rumo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em águas brasileiras, onde aterraram, sem o auxílio do vento, no dia seguinte.
O mar revolto naquele ponto, entretanto, causou danos ao Lusitânia, que perdeu um dos flutuadores. Os aeronautas foram recolhidos por um Cruzador da Marinha Portuguesa, que os conduziu a Fernando de Noronha. Apesar de exaustos pelo voo de 1700 quilómetros e pelo pouso acidentado, comemoraram o encontro, com precisão, daqueles rochedos em pleno Atlântico Sul, apenas com o recurso do método de navegação astronómica criado por Gago Coutinho.
Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul
Com a opinião pública portuguesa e brasileira envolvida no feito, o Governo Português enviou outro hidroavião Fairey, batizado como Pátria, a partir de Fernando de Noronha, pelo navio brasileiro Bagé, que chegou no dia 6 de Maio. Tendo o hidroavião sido desembarcado, montado e revisionado, a 11 de Maio levantaram vôo de Noronha.
Entretanto, uma nova fatalidade acometeu os aeronautas, quando, tendo retornado e sobrevoando o arquipélago de São Pedro e São Paulo para reiniciar o caminho interrompido, uma pane no motor obrigou-os a aterrar de emergência, tendo permanecido nove horas como náufragos, até serem resgatados por um cargueiro inglês - o Paris City, em trânsito na região.
Reconduzidos a Fernando de Noronha, aguardaram até 5 de Junho, quando lhes foi enviado um novo Fairey F III-D (n.° 17), batizado pela esposa do então Presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, como "Santa Cruz". Transportado de Portugal pelo navio Carvalho Araújo foi posto na água do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, tendo levantado voo rumo ao Recife, fazendo escalas em Salvador, Porto Seguro, Vitória e dali para o Rio de Janeiro, na altura Capital Federal. Do Rio, 17 de Junho, aterraram em frente à Ilha das Enxadas, nas águas da baía de Guanabara.
Aclamados entusiasticamente como heróis em todas as cidades brasileiras onde amerisaram, os aeronautas haviam concluído com êxito não apenas a primeira travessia do Atlântico Sul, mas pela primeira vez na História da Aviação, tinha-se viajado sobre o Oceano Atlântico apenas com o auxílio da navegação astronómica a partir do avião.
Embora a viagem tenha consumido 79 dias, o tempo de voo foi de apenas 62 horas e 26 minutos, tendo percorrido um total de 8.383 quilómetros. A viagem serviu de inspiração para os raides posteriores de Sarmento de Beires, João Ribeiro de Barros e de Charles Lindbergh, todas em 1927.
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