Nov 2014 - O Cante Alentejano é Património Cultural Imaterial da Humanidade
A 27 de Novembro de 2014, durante a reunião do Comité em Paris, a UNESCO considerou o Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Paris ouviu os homens de Serpa. A nomeação portuguesa foi considerada “exemplar” pelo órgão de avaliação da UNESCO – o chamado “corpo subsidiário” – cujos membros se declararam “unânimes sobre a qualidade desta candidatura”.
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O Cante Alentejano nunca foi a única expressão de música tradicional no Alentejo, sendo aliás mais próprio do Baixo Alentejo que do Alto. Com o cante coexistiram sempre formas instrumentais de música com adaptação de peças entre os géneros. Trata-se de um canto coral, em que alternam um ponto a sós e um coro, havendo um alto preenchendo as pausas e rematando as estrofes. O canto
começa invariavelmente com um ponto dando a deixa, cedendo o lugar ao alto e logo intervindo o coro em que participam também o ponto e o alto.
Terminadas as estrofes, pode o ponto recomeçar com um nova deixa, seguindo-se o mesmo conjunto de estrofes. Este ciclo repete-se o número de vezes que os participantes desejarem. Esta característica repetitiva, assim como o andamento lento e a abundância de pausas contribuem para a natureza monótona do cante.
Após a Segunda Guerra Mundial, a progressiva mecanização da lavoura, a generalização da rádio e da televisão, assim como o êxodo rural massivo causaram o declínio do género. Hoje o cante sobrevive em grupos oficializados que o cultivam, mas já sem a espontaneidade de outrora, limitando-se eles a recapitular em ensaio o repertório conhecido de memória, amiúde sem qualquer registo escrito nem sonoro e já sem acção criativa.
Video Oficial da Candidatura do Cante
A candidatura do cante a património imaterial da UNESCO teve como promotores a Câmara Municipal de Serpa e a Entidade Regional de Turismo/ Agência de Promoção do Alentejo. Independentemente da decisão que fosse tomada pela UNESCO, a candidatura criou uma dinâmica regional e local que trouxe uma vitalidade ao cante, com o aparecimento de novos grupos, muitos deles compostos por jovens, e uma visibilidade mediática inédita. Existem actualmente mais de 150 grupos de cante no Alentejo.
O património imaterial é uma designação que abrange tradições, conhecimentos, práticas e representações que constituem a matriz identitária de uma comunidade ou grupo e asseguram a diversidade cultural dos países num contexto de crescente globalização. Ela inclui tradições e expressões orais, artes performativas, rituais sociais e festas ou práticas artesanais.
Grupo de Serpa na Cerimónia oficial da inscrição na sede da UNESCO
Portugal foi convidado a “intervir para partilhar a sua alegria” e 21 membros do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, todos homens, surgiram em palco nos seus trajos rurais, chapéus pretos e cajados, e cantaram , durante breves minutos, a canção Alentejo, Alentejo. Telemóveis e tablets despontaram um pouco por toda a grande sala da UNESCO, para registar o momento.
Apesar de serem estes grupos e a sua manifestação em festas, encontros e concursos os guardiães da tradição, em numerosos casos progride neles o afastamento da dita com a inclusão no repertório de peças estranhas ao cante, instrumentação e adulteração de peças tradicionais num sentido mais popular, com destaque para o desvio direito ao fado, numa tendência de avivamento do género que visa torná-lo mais garrido. Já Património da Humanidade, "o que importa é dar futuro a este Cante, para expressar as novas dinâmicas de mudança, a melhoria dos quadros de vida, a atracção e fixação de novas gentes e o sucesso crescente desta região como território turístico. E também escrever-lhe uma história, ainda em falta."
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