Este artigo inclui uma sequência dos eventos da seleção no Mundial de 1966 Expandir ▼
Os portugueses desfilaram pelos relvados ingleses com um poder de fogo alucinante e uma estrela acima da média: Eusébio, o Pantera Negra, maior jogador português de todos os tempos. Com nove golos, o atacante veloz, forte e com uma explosão digna do mais feroz felino merecia, como sua seleção, sorte melhor naquele campeonato. Mas, assim como muitas outras equipas, Portugal sucumbiu para um adversário não tão brilhante assim, a Inglaterra, que mais tarde ficaria com o título. No entanto, Portugal deixou sua marca na história e alcançou o terceiro lugar. passe com o rato na imagem para mais pormenores acerca de cada jogador
Antes mesmo do Campeonato começar, Portugal já tinha muita esperança de classificação para o Mundial inglês de 1966. Ela morava no talento da geração de craques lusitanos naqueles anos sessenta e na organização da federação portuguesa, que colocou no comando da equipa um técnico selecionador, Manuel de Luz Afonso, e outro técnico, de campo, o brasileiro Otto Glória, já famoso no país após títulos conquistados pelo Benfica, Belenenses e Sporting, além de ter sido o próprio Glória, lá no final dos anos cinquenta, a ter começado a montar a maior equipa portuguesa de todos os tempos: o Benfica bicampeão europeu de 1961 e 1962, já sob comando do húngaro Béla Guttmann. O Goleador de 1966
Com dois comandantes fora das quatro linhas, a equipa começou a tomar forma e tinha como grande estrela o goleador Eusébio, tido pelos portugueses como o “novo Pelé” tamanha a sua qualidade. Ele chutava bem, cabeceava melhor ainda, tinha uma velocidade alucinante e uma explosão até maior que o Rei. Era sublime e um espetáculo a parte ver aquele moçambicano de nascimento jogar.
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Outro craque de Moçambique (colónia portuguesa naquela época) fundamental naquele esquadrão era Mário Coluna, cerebral no meio de campo e capaz de organizar jogadas, dar lançamentos precisos e até mesmo marcar golos. A dupla era muito bem amparada por seus companheiros do Benfica no ataque como José Augusto, Torres e Simões, além dos defensores viris e seguros vindos em grande parte do Sporting, como Hilário, Morais e Baptista, além do goleiro José Pereira e Vicente, ambos do Belenenses. Hilário - Sporting C.P.
Com a base formada e um futebol ofensivo, Portugal foi à luta por uma vaga no campeonato no grupo 4 das eliminatórias europeias ao lado de Roménia, Turquia e a então vice-campeã mundial Checoslováquia. O grupo não era fácil, mas os encarnados trataram de facilitar as coisas para eles mesmos. Na estreia, em Lisboa, goleada de 5 a 1 sobre a Turquia com três golos de Eusébio.
Nos três jogos seguinte, Eusébio fez simplesmente todos os golos lusitanos no 1-0 sobre a Turquia fora de casa, no 1-0 sobre a Checoslováquia também fora de casa e no 2-1 sobre a Roménia em Lisboa. Em outubro de 1965, um empate sem golos contra a Checoslováquia no estádio das Antas garantiu a Portugal o seu primeiro Campeonato do Mundo. A equipa ainda disputou uma última partida pelas eliminatórias e perdeu para a Roménia, fora de casa, por 2-0. Mas a derrota não abalou nem um pouco os encarnados. Era hora de brilhar pela primeira vez no maior palco do futebol mundial. [13 de Julho] Portugal fez a sua estreia no Campeonato do Mundo. A equipa jogou diante de quase 30 mil pessoas no Old Trafford, em Manchester, conhecido como o “Teatro dos Sonhos”. E foi lá que começou a trajetória de ouro daquela equipa. Os húngaros, pobres adversários dos lusitanos, nada puderam fazer para conter o ímpeto ofensivo daquela forte equipa. José Augusto abriu o placar com apenas dois minutos de jogo. No segundo tempo, Bene empatou para a Hungria, mas foi mais por sorte que por talento. José Augusto, aos 20 minutos, e Torres, numa de suas cabeçadas características aos 44 minutos, definiram o placar em 3-1. Portugal 3 - 1 Hungria
[16 de Julho] Portugal mostrou outra vez seu poder de fogo e fez 3-0 na Bulgária, com um golo de Vutsov (contra) aos 17 minutos e Eusébio aos 38 minutos do primeiro tempo e Torres, de novo de cabeça, aos 37 minutos do segundo tempo. Com seis golos a favor, um contra e quatro pontos ganhos (na época, a vitória valia dois pontos), Portugal estava praticamente classificado. Apenas uma derrota de goleada tiraria a equipa da segunda fase. Mas seria preciso encarar um adversário poderoso e místico: o Brasil. Com Pelé. Portugal 3 - 0 Bulgária
[19 de Julho] No estádio Goodison Park, em Liverpool, países intimamente ligados pela história enfrentaram-se pela primeira vez em Campeonatos do Mundo num jogo marcante e decisivo. Portugal, acredite, era o favorito. O Brasil não era nem sombra da equipa bicampeã do mundo em 1962 e apoiava-se, sobretudo em Pelé, tanto é que o técnico de Portugal, Otto Glória, deixou bem claro na véspera do jogo que os brasileiros não eram tudo aquilo: “O Brasil tem o melhor futebol do mundo, mas essa é uma de suas piores seleções” (Otto Glória). Portugal 3 - 1 Brasil
Sabendo da fragilidade brasileira, Portugal tratou de marcar Pelé, o único que poderia desequilibrar pelo lado canarinho, e fez o que pôde para travá-lo, nem que fosse à base da porrada – exatamente o que os defensores Vicente e Morais fizeram. Pelé sofreu várias faltas em sequência naquele jogo, sendo as mais ríspidas da dupla portuguesa, cruciais para destroçar o jogador brasileiro, que teve de se arrastar em campo (na época não havia substituições) e nada pôde fazer para ajudar o Brasil. Diante de um adversário com 10 homens, muito nervoso e sem talento algum, Portugal tratou de liquidar depressa o jogo. Simões, aos 15´, aproveitou uma bobeada do goleador Manga e fez 1-0. Eusébio, aos 26 minutos, ampliou. Rildo, aos 28 minutos do segundo tempo, diminuiu para o Brasil, mas Eusébio deixou mais um aos 40 minutos e decretou a vitória portuguesa por 3-1. Os lusitanos comemoraram não só a vitória, mas também o triunfo do “seu Pelé” sobre o original. Naquele dia, o “Pelé português” venceu o brasileiro por 2-0. E ainda por cima eliminou de uma vez os campeões do mundo.
[23 de Julho] No mesmo Goodison Park, em Liverpool, Portugal jogou por uma onda nas semifinais do campeonato contra um adversário surpreendente: a Coreia do Norte, que tinha eliminado de maneira épica a toda poderosa Itália com uma vitória por 1-0, golo de Pak Doo-Ik. Os norte-coreanos já eram a sensação do torneio e confirmaram a fama logo nos primeiros 25 minutos de jogo. Rápidos, alucinantes e frenéticos, os pequeninos coreanos marcaram três golos. Os espectadores do estádio pareciam não acreditar no que viam. Como Portugal, uma seleção mais forte tanto tecnicamente quanto fisicamente, estava a perder para aqueles baixinhos? Pois é, ninguém tinha a resposta. No entanto, uma pessoa em campo parecia tranquila e serena, apenas à espera da hora certa para mostrar as garras: Eusébio. Portugal 5 - 3 Coreia do Norte
O Pantera Negra, a partir do terceiro golo norte-coreano, começou, sozinho, a reação mais espetacular dos Campeonatos do Mundo. Aos 27 minutos, o craque marcou, de penalti, o primeiro golo português. Aos 42 minutos, outra vez de penalti, o Pantera fez o segundo. Na tempo complementar, Eusébio continuou infernal e a dar arrancadas e mais arrancadas que nenhum daqueles pobres asiáticos podiam alcançar. Numa delas, o craque avançou em direção ao golo e tocou por cobertura para fazer o golo de empate aos 12 minutos. Apenas dois minutos depois, outro pênalti e mais um golo de Eusébio: 4-3. O estádio estava ao rublo. Como os portugueses conseguiram dar a volta de um 0-3 para um 4-3 em tão pouco tempo? Ora, bastava olhar em campo e ver o que jogava Eusébio e o que criava no meio de campo aquele outro ser sublime chamado Mário Coluna. Era um espetáculo. Aos 40 minutos, José Augusto fechou as contas e decretou a espetacular vitória portuguesa: 5-3.
O estádio inteiro aplaudiu de pé a apresentação não só de Portugal, mas também da Coreia, dona de 25 minutos de protagonismo, mas que teve de ver Eusébio e companhia pegarem para si os outros 75. Uma divisão injusta, mas corretíssima para o bem do futebol, que ganhara mais um capítulo saboroso para sua história. [26 de Julho] Portugal teve pela frente a anfitriã Inglaterra na semifinal. Era um combate duro, mas plenamente possível de ser superado por conta da qualidade da equipa e do futebol apresentado nas partidas anteriores. Porém, vários fatores começaram a aparecer e Portugal foi perdendo a chance de fazer história ainda na véspera. O jogo estava marcado previamente para o estádio Goodison Park, o mesmo no qual Portugal tinha vencido o Brasil e a Coreia do Norte. No entanto, a FIFA alegou que a partida teria “grande interesse por parte do público” e decidiu, sem consultar os portugueses, mudar o local do jogo para o grandioso Wembley (palco de todos os jogos anteriores da Inglaterra). Além disso, Portugal não pôde contar com os defensores Morais e Vicente, lesionados. Inglaterra 2 - 1 Portugal
E mais: a equipa, impressionada com as sanções às equipas indisciplinadas e os ataques dos jornais ingleses à “selvageria das equipas sul-americanas” (aqui, lê-se Argentina, por conta do duelo contra os ingleses nas quartas de final), os portugueses trataram de tirar o pé e não foram tão viris como de costume naquele jogo tão importante. Tanto cavalheirismo só podia resultar numa coisa: derrota. Bobby Charlton, craque da equipa da casa, marcou dois golos, Eusébio descontou, de penalti, e a Inglaterra foi para a final, que seria vencida por 4-2 diante da Alemanha. Portugal não jogou absolutamente nada e teve um rendimento muito abaixo do esperado naquele dia. Parecia que a vibração tinha acabado, a vontade de vencer esmaecido e o talento esquecido no hotel. Restava aos encarnados apenas a disputa do terceiro lugar, contra a URSS de Yashin.
[28 de Julho] Na disputa pelo terceiro lugar, Portugal superou a URSS por 2-1, com golos de Eusébio e Torres, e alcançou o incrível bronze naquele Campeonato de 1966. Portugal 2 - 1 URSS
Na sua primeira participação, a equipa conseguia um desempenho mais do que histórico. No entanto, tanto nos torcedores quanto nos jogadores ficou aquele gosto de decepção. Afinal, com o futebol apresentado, os nove golos de Eusébio (melhor goleador ddo campeonato), e o poder de fogo daquele esquadrão, dava para ter abocanhado, sem dúvidas, a Taça Jules Rimet. Faltou ousadia e raça diante dos ingleses snobs. Uma pena.
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[FONTES]: Textos do blog Imortais do Futebol | Imagens: Imagem Inicial (do blog Versão Beta do Esporte por Fernando Vannier) • Imagem com identificação do grupo (do blog Santa Nostalgia) | Videos: "O Gladiador de 1966" por Nuno Mendanha • "Hilário: do Portal Sporting Memória • Jogo Hungria x Portugal pela Sportmania • Jogo Bulgaria x Portugal por um canal inglês • Jogo Brasil x Portugal pelo Canal 100 • Jogo Portugal x Coreia do Norte pela TVI 24 • Jogo Ingleterra x Portugal do Arquivo RTP • Jogo Portugal x USSR
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