Jun 1983 - Mosteiro dos Jerónimos, Património da Humanidade
Data de 1496 o pedido feito pelo rei D. Manuel à Santa Sé, no sentido de lhe ser concedida autorização para se erigir um grande mosteiro à entrada de Lisboa, perto das margens do Tejo. Em 1501 começaram os trabalhos e, aproximadamente um século depois, as obras estavam concluídas.
O Mosteiro dos Jerónimos é habitualmente apontado como a "joia" do estilo manuelino. Este estilo exclusivamente português, integra elementos arquitetónicos do gótico final e do renascimento, associando-lhe uma simbologia régia cristológica e naturalista, que o torna único e digno de admiração.
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Para ocupar o Mosteiro, D. Manuel escolheu os monges da Ordem de S. Jerónimo, que teriam como funções, entre outras, rezar pela alma do rei e prestar assistência espiritual aos mareantes e navegadores que da praia do Restelo partiam à descoberta de outros mundos.
Estreitamente ligado à Casa Real Portuguesa e à epopeia dos Descobrimentos, o Mosteiro dos Jerónimos foi, desde muito cedo, "interiorizado como um dos símbolos da nação" . É hoje uma das mais importantes atrações turísticas da capital, contando um total de 807 854 visitantes em 2014.
Igreja
A Igreja apresenta uma planta em cruz latina, composta por três naves à mesma altura (igreja salão), coberta por uma extensa abóbada polinervada suportada por seis pilares. A abóbada do cruzeiro cobre, sem apoios intermédios, uma largura de 30 metros, representando "a realização mais acabada da ambição tardo medieval de cobrir o maior vão possível com o mínimo de suportes" (Kubler). A profusão de ornatos atinge o seu auge neste vasto espaço.
Na capela à esquerda do transepto está sepultado o Cardeal-Rei D. Henrique e os dos filhos de D. Manuel I; na que se situa à direita encontra-se o túmulo de D. Sebastião e dos descendentes de D. João III. A igreja acolhe também os túmulos de Camões e Vasco da Gama, da autoria de Costa Mota, tio.
A capela-mor inicial, de Boitaca, foi demolida e substituída por outra, mandada construir em 1571 por D. Catarina, mulher de D. João III. Foi traçada por Jerónimo de Ruão, que aqui introduziu o estilo maneirista, estabelecendo um forte contraste com o corpo manuelino da Igreja. Nas arcadas abertas entre os pares de colunas laterais estão situados os túmulos de D. Manuel I e de sua mulher, D. Maria, de D. João III e D. Catarina. No altar-mor encontra-se um retábulo do pintor Lourenço de Salzedo com cenas da Paixão de Cristo e a Adoração dos Magos.
Coro-alto e sacristia
Anterior a 1551, o coro-alto destinou-se, entre outras, às atividades fundamentais dos monges da Ordem de São Jerónimo (orações, cânticos e ofícios religiosos), visto a Sala do Capítulo ter permanecido inacabada até ao século XIX. O cadeiral monástico (notabilíssimo) que ocupa o espaço a poente, foi projetado por Diogo de Torralva e executado por Diogo de Sarça (Diego de la Zarza) entre 1548 e 1550; a sua elaborada conceção erudita revela influência dos modelos maneiristas. Sobre a balaustrada do coro-alto ergue-se um 'Cristo Crucificado' (1550) do escultor flamengo Philippe de Vries (Filipe Brias); oferecido em 1551 pelo Infante D. Luís, é considerado um marco do triunfo do renascimento em Portugal. O conjunto de pinturas representando os apóstolos que integra o cadeiral é de autor desconhecido.
Visita Guiada ao Mosteiro dos Jerónimos
Anexa à igreja destaque-se a ampla sala da sacristia, cuja abóbada irradia de uma coluna central. Concebida por João de Castilho, a sua construção data de 1517-1520. O mobiliário inclui um arcaz de madeira do século XVI, presumivelmente da traça de Jerónimo de Ruão, onde se conservam paramentos e alfaias litúrgicas. Sobre o espaldar dispõem-se catorze pinturas a óleo representando cenas da vida de S. Jerónimo (atribuídas ao pintor maneirista Simão Rodrigues; executadas c. 1600-1610).
Portal sul
Construído ao longo de dois anos (1517, 1518) por João de Castilho e seus oficiais, o Portal sul é uma das peças mais ricas da arquitetura portuguesa do gótico tardio. A sua estrutura atinge os 32 metros de altura e mais de 12 de largura, apresentando-se como uma verdadeira «porta da cristandade» de características triunfais. A autoria não pode ser atribuída a um único artista. João de Castilho foi responsável pela conceção global e teve ao seu serviço uma numerosa equipa que chegou a contar 200 executantes (imaginadores, pedreiros, aparelhadores, decoradores, etc.), com maior ou menor responsabilidade na definição final da obra. Entre os nomes mais destacados assinalem-se Diogo de Castilho, André Pilarte, Juan de la Faya ou Machim.
Dos dois, este é o portal mais complexo do ponto de vista iconográfico, contando com um total de quarenta figuras, trinta e oito alusivas à História Sagrada, uma à História de Portugal, além das armas nacionais, no baixo-relevo central da parte superior do tímpano. Na base do portal dispõem-se os doze apóstolos; nos botaréus, os que vaticinaram o nascimento de Cristo (sibilas e profetas); ao centro, a Virgem com o Menino; a coroar o conjunto, quatro Padres ou Doutores da Igreja e, no topo, São Miguel, o Anjo Custódio do Reino. Mais abaixo, em posição central entre as duas portas de entrada, a estátua do Infante D. Henrique, antepassado do rei D. Manuel (laço de parentesco entre D. Manuel e a Casa de Avis). Nos tímpanos figuram duas cenas da vida de S. Jerónimo.
Portal poente (axial)
Embora de menor escala do que o Portal Sul, esta é a porta principal do Mosteiro dos Jerónimos, ocupando a posição fronteira ao altar-mor. Deve ter sido projetada inicialmente por Diogo de Boitaca e, depois, por João de Castilho, como pode depreender-se do cariz gótico de feição hispano-flamenga dos elementos arquiteturais. Foi executada por Nicolau Chanterene e sua companhia, tendo a mão do mestre francês ditado uma significativa inflexão estilística, com a introdução de motivos classicizantes renascentistas.
A zona superior do portal é ocupada por três nichos com cenas do nascimento de Cristo: Anunciação, Natividade e Adoração dos Magos. Nas zonas laterais destacam-se, entre representações de santos e figuras do apostolado, as estátuas orantes dos reis fundadores, com suas respetivas insígnias e seus santos patronos: do lado esquerdo D. Manuel I e São Jerónimo; do lado direito, a rainha D. Maria e São João Baptista.
Nós Por Aí - Mosteiro dos Jerónimos
Claustro
O claustro dos Jerónimos é o primeiro no seu género em Portugal, possuindo dois andares abobadados e uma planta quadrada, de cantos cortados, formando um octógono virtual. É considerado uma obra-prima da arquitetura mundial e constitui um depoimento estético de extraordinária beleza, cuja harmonia resultou da habilidade e delicadeza dos mestres que, em três campanhas sucessivas, se dedicaram à sua construção – projetado inicialmente por Diogo de Boitaca, sofreu adaptações de João de Castilho e foi concluído por Diogo de Torralva.
O claustro faz uma síntese de géneros e estilos diversos, refletindo uma interpretação eficaz dos princípios do gótico tardio, do renascimento experimental, de caráter decorativo, e do renascimento maduro ou alto renascimento. Conjugando símbolos religiosos (entre os quais elementos da Paixão de Cristo), régios (escudo régio, esfera armilar, cruz da Ordem Militar de Cristo) e elementos naturalistas (cordas e motivos vegetalistas que coabitam com um imaginário ainda medieval, de animais fantásticos), a riqueza iconográfica dos elementos decorativos é notável. São raros os edifícios europeus desse tempo com uma carga decorativa tão rica e densa de significado. "A celebração do casal régio, [...] a elevação da narrativa bíblica da Paixão de Cristo e a declamação da épica portuguesa [...] são aqui assumidos num discurso único, com diversas combinações", contribuindo para a "projeção mítica de uma missão superior a desempenhar pelo reino português".
Hoje o Mosteiro dos Jerónimos é revisto por cada um de nós não apenas como uma notável peça de arquitetura mas como parte integrante da nossa cultura e identidade. Este belíssimo mosteiro encontra-se classificado como Monumento Nacional desde 1907 e, em 1983, foi classificado como Património Mundial pela UNESCO, juntamente com a Torre de Belém. Em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal.
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